sábado, 17 de abril de 2010

Licença, poética

Ela disse
que não sabia se decidir por coisas excludentes
entre si
porque não agüentava o desfazer-se

Fui eu então
que me desfiz
em mil partes
para não parti-la o coração

E saí com o meu em migalhas

Mas por que se importar?
Se eu puder ter seus olhos
ainda
Qualquer manhã sem ela será, de qualquer forma,
uma manhã.

Só não terei seus olhos nos meus...


Para cada dormir, uma noite vazia
sem a eficiência de madrugadas ativas
pensando.
Mas é melhor a integridade
física
e,
principalmente,
mental.

Não, eu não me sinto sortudo
como diria a canção
- só se for na acepção do tom melancólico
de quem a cantou

Minhas mãos estão tão secas
quanto o dia que fez hoje.
E frio.
Há um frio de despir-se
e tremer
- arrepio se sente ainda com várias camadas

ou com um toque


E de repente, como ela ressurge
com um brilho de sol
refletindo nas mil paredes de cal


Qualquer manhã sem ela
pode ser uma manhã
mas acordar sem tê-la ao lado
é quase loucura
e não adianta parar de pensar
nas madrugadas
conscientemente
se até meu inconsciente já se perdeu
e sonhar é tê-la
mas não tê-la mais é perdê-la a cada vez mais, de novo
e a mim.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Depois que meu avô morreu, a casa ficou mais vazia
e mais triste.
Ele se encarregava das piadas e dos sorrisos
também dos resmungos, mas dormia
quase todo dia
o dia todo
então não irritava tanto.
Pensei outro instante,
três meses depois da ida,
que deveria ter sentado mais vezes ao seu lado no sofá
pra segurar sua mão.
Não sei bem o que faltou.



E sempre falta coisas que a gente não sabe explicar...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Não estou só, mas
sinto-me
e preciso estar.
Esta casa virou um cortiço desde que chegaram noras e primos,
gente de mais e cômodos de menos para se esconder.
A lua hoje me acordou ao nascer;
meus horários estão mais confusos que minha cabeça.
O fato é que ela adentrou o quarto
deu-me um abraço
e ficou a espreita.
Eu a namorei até não poder mais vê-la.

A lua só não é mais melancólica por ser tão bela
e deixar todos bobos e melancólicos,
mais que ela própria.
Melancólicos ou alegres, decerto
mas certamente eu não me encaixaria no segundo grupo neste exato momento.

Espero o relógio bater a próxima hora
não tenho um objetivo certo, mas estar deitada e ouvir um blues me apraz.
Penso que tanto faz se ele viesse
mas continuo chateada
e tentando me sentir indiferente.

O silêncio de repente domina a casa:
a anciã se recolhe às oito da noite
e os demais ainda não chegaram.
A cabeça até dói nessas ocasiões
onde o silêncio faz com que até as respirações sejam mais significativas,
quem sabe dolorosas...

Eu costumo não pensar quando deveria
e pensar demais quando deveria parar.
Meus olhos ardem e resolvo então
esquecer que ainda estamos na metade da semana,
ir a um bar qualquer
tomar a bebida que me convier
e dormir um sono justo
por todas essas horas inquietas.

"Diga boa noite e vá".
Boa noite. E pelo resto dela,
boa sorte para mim.

domingo, 19 de outubro de 2008

Por onde andamos longe, viajando?
Vi fotografias e sinais estranhos
coisas de que não ouvi falar depois que
te abracei
A distância é assim tamanha?
Queria saber das andanças como os estranhos
sabem dos relatos e das provas
de que você não esteve aqui...

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

abandono, é isso. queria um afago...

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Ao esconderijo. Para fugir do sol
encontrar estrelas
décimo corredor última porta, à esquerda
Bom-dia. Seja bem-vindo.
Fique à vontade. Talvez nem tanto.
Tenho um segredo.
Lembra da noite em que eu ainda não lhe conhecia
e fui ver meu declínio terminar no mar?
Eu apontei estrelas cadentes
praguejando aquelas mentiras
e nasceram verrugas em mim...
.
Vai-te daqui, se quiseres
o chão está sujo
assim como meus olhos
como meu corpo, minhas mãos...
.
[ - Cale a boca
e me deixe dormir
em seu colo, em paz,
.
para sempre, até a noite acabar...]

sábado, 12 de maio de 2007

Dói
mas só quando eu respiro.

Apaga a luz
tranca as portas
meus sentidos extenuam-se na multidão
e eu sou outra quando estou em mim.
Vai,
fecha-me os olhos
eu não quero ver ou ouvir ninguém
eu não quero sentir nada

nada que não seja eu
posto que já não sou muito

e, para o nada,
basto-me só.